Em 20 de Setembro de 1991 à meia noite estreava o espetáculo Cinderela - A história que sua mãe não contou, no teatro Valdemar de Oliveira. Mas para conhecermos a fundo a história dessa cia do barulho temos que voltar alguns anos, porque tudo começou quando o ator Jeison Wallace foi convidado para dirigir a Arara's Dancing Bar e quis fazer algo diferente dos shows de dublagem que normalmente já aconteciam. Começou apresentando o show da Negona, baseado no show da Xuxa, com brincadeiras voltadas para o público da boate. Roberto Vasconselos e Flávio Luiz que o ator havia conhecido no festival de Teatro de Bolso, o Tebo, eram suas "pretuxitas".Então em 1990 através da Marquesa primeira e única que dividia o apartamento com ele conheceu o manuscrito de A bicha Burralheira - a estória que sua mãe não contou. Texto que Henrique Celibi já havia montado em 1985 na boate Misty, e de cara viu que aquilo dava panos pra manga. A primeira pessoa convidada pro elenco foi Edilson Rygaard para viver o príncipe, personagem imortalizado pelo ator. Então vieram os outros, Beto Costa, que seria a fada, Luciano Rodrigues que viveria a madrasta, e Emerson Nascimento e a Maquesa primeira e única ganharam os papéis da irmãs malvadas. Jô Ribeiro foi convidado para operar a trilha sonora. Horas antes da estréia a Marquesa apareceu "muito doida, entregue as baratas" (Palavras de Jeison Wallace) Para que o espetáculo não acontecesse. Por sorte Flávio Luiz estava ali para ajudar na contra-regragem então jeison pediu: - Nega, decore esse texto que a senhora vai entrar em cena. E foi assim que estreiaram o espetáculo no Arara's Dancing Bar. Um sucesso!
Após 3 meses de casa cheia e os apelos do público para eles irem para um lugar maior, decidiram partir para um teatro, mas não foi fácil achar pauta na cidade, o solução foi procurar Reinaldo de Oliveira diretor do Teatro Valdemar de Oliveira, onde já faziam espetáculos com Bóris Trindade ou com a Cia do Sol e sugeriram um horário alternativo da meia noite, o único disponível. Com o aval do técnicos Reinaldo aceitou a proposta, e mudaram o nome da esquete para Cinderela - a história que sua mãe não contou. Então foi preciso esticar a peça, pois ela tinha apenas meia hora, foi aí que surgiu o prólogo para brincar com o público e um baile maior, com algumas dublagens para chegarem a quase 1 hora de duração. Também sentiram a necessidade de incrementar aos espetáculos novos cenários e figurinos então fizeram um "chá de teatro", contando com a ajuda de alguns amigos da classe artística.
Poucos dias antes da estreia em um ensaio Emerson Rodrigues brigou com Jeison e decidiu sair do processo, Daí, por outra jogada do destino, Aurino Xavier, que já trabalhava no Cia do Sol, foi a última pessoa a entrar no grupo, numa sugestão de Luciano Rodrigues, que o conhecia desde a universidade.
Finalmente estreiaram a meia noite o teatro Valdemar de Oliveria com a pláteia lotada... de convidados. Afinal todos queriam ver que "Babado" era aquele. Depois foram abandonados ao léu, com 20 pessoas curiosas a cada noite. Não foi fácil, mas nunca houve uma baixa e o público foi crescendo aos poucos, graças a divulgação que faziam nos bares montados com os personagens. Foi então que criaram a promoção do 50% de desconto pra quem apresentasse ficha telefônica, camisinha, nota fiscal de super mercado ou cupom das lojas Americanas na bilheteria do teatro. Ainda em 1991 lançaram a promoção do alimento não-perecível, dois anos antes da campanha do Betinho ser criada no Rio. Isso foi chamando a atenção de muita gente, porque até então o público era aquele que podia sair de casa perto da meia noite, de carro, sem se preocupar com o valor do ingresso. Um público fino, elegante, e passaram a atrair também, quem não tinha dinheiro.
Porém, nínguem achava que iria dar público. Não só pelo horário, mas por ser besteitol. Roberto Costa fala: "Aquilo não era teatro" eis o que muitos diziam. Afinal, tinha gente que ainda nos considerava a escória do teatro pernambucano.
Até que no Carnaval de 1992, através do José Mário Austregésilo, receberam o convite para fazer a cobertura do desfile d'As Virgens do Bairro novo, em Olinda, pela tv jornal, e esse foi o grande estouro do espetáculo. Daí, todos quiseram saber que peça era aquela que parecia ser infantil, mas não era. No ano seguinte a diretoria do bloco proibiu e foram, então, fazer a cobertura do Galo da Madrugada e assim, Cinderela foi sendo divulgada cada vez mais.
Depois desse estouro na tv, surgiram então os especiais de Natal (recorde de audiência) e em seguida o São João da Cinderela e o Cinderela, cem anos depois.
Com as aparições na tv conseguiram atrair do intelectual ao que não sabe ler nem escrever. A cada aniversário da peça, também preocupados com a questão social, criavam uma festa, com doações de alimentos e utensílios domésticos em troca de desconto no valor do ingresso. Assim foram chamando a atenção da mídia, inependente de ser um beiteirol ou uma comédia sem valor. No ínicio só Valdi Coutinho foi o único a escrever sobre o espetáculo, ele entendeu a proposta do espetáculo e colocou na manchete: "Um diversiones retocado".
A partir de 1992 começaram a viajar pelo nordeste, com a parceria de muitos amigos produtores, sempre lotando casas de espetáculos, principalmente em Macéio e Natal. Em 93 foram ao Rio de Janeiro a convite do produtor Luís Vilarino, para uma temporada de três meses no teatro da Praia. Mas quase sem espaço na mídia, tiveram uma média de 200 pessoas por sessão, o que não foi ruim, por serem um grupo desconhecido e pela enorme quantidade de espetáculos na cidade. Foi no Rio que batizaram o nome das irmãs malvadas de Ruth e Raquel, aproveitando o sucesso de Glória Pires na novela mulheres de areia.
A primeira perca e substituição!!!
Ao retorno dessa viagem terminando a turnê pelo nordeste, já na Paraíba, Luciano revelou-se bastante doente, com problemas de aneurisma, até vir a falecer no Recife. Essa foi a primeira grande perda. Chamamos então, Paulo de Pontes, um excelente ator de espetáculos sérios. E com a vinda de Paulo, entrou de quebra, Célio Pontes, irmão do ator que iria substitui-lo principalmente nas viagens que ele não pudesse ir.
Projetos pararelos!!!
Em 1993, como Luís Lima pedia para fazer um novo trabalho com Jeison, desde o "Salve-se quem puder", Os dois mantinham uma relação de muito carinho, então ele decidiu montar A casa de Bernada e Alba, a história de uma manicure suburbana, aspirante a cantora, que vive de favor na casa de uma avó paralítica e pornográfica, texto que Henrique Celibi havia escrito um ano antes. A peça estreou no Capibaribe Show, no final daquele ano. Mas no ano seguinte, icentivado por Roberto Costa e Antônio Bernadi que alavancaram a produção, Jeison levou esta nova comédia para o teatro Valdemar de Oliveira. Aurino Xavier foi convidado como ator desde o início, mas já que o retorno dessa temporada não foi boa, os produtores se afastaram e então a peça virou meio cooperativa. A peça só veio ser assinada pela Trupe em 2002, quando montaram um projeto de popularização, o Abril pro Riso, no Teatro do Parque. Nessa remontagem, Rygaard fazia o papel da velha no lugar do já falecido Luís Lima. Com o sucesso do espetáculo nasce então a banda Pão com ovo, da personagem Alba, estourando o frevo: Ôxe mainha.
A maior emoção de Cinderela!!!
Quando perguntados a resposta é unanime: No projeto Todos com a Nota do Governo de Pernambuco. O susto foi impressionante desde a primeira apresentação ainda no teatro do Parque.
Aurino Xavier: Na , ainda na antiga Mesbla, pensei que o projeto tinha colocado um bloco de carnaval na rua. Na época, íamos de ônibus pro teatro, e quando toda aquela gente desde a Avenida Conde de Boa Vista, quando percebi que aquela multidão estava ali só para nos ver, fio aquela emoção! Cinco mil pessoas como foi divulgado na impressa tinha só na rua do hospício.
Ganharam o primeiro lugar na votação popular. E como a organização quis dar uma resposta à mídia por falta de espaço, na nova sessão, montaram uma estrutura no Geraldão, com microfones.
A administração do estádio informou que o público foi superior a 15 mil pessoas.
A Trupe na rádio!!!
A idéia partiu da TOP FM, em 1997, uma rádio que estava se lançando e querendo humor na programação . Jeison Wallace foi convidado e convidou Aurino Xavier, Beto Costa e Edilson Rygaard para acompanha-lo, e Paulo de Pontes participando de algumas pegadinhas. Surgiu assim a "Tarde do Barulho" Ficaram mais de ano com veiculação diária, ao meio-dia. Até que tiveram problema com a Vara da infância e da juventude e o juizado de menores tirou o programa do ar, alegando que incentivávamos crianças ao "homossexualismo". Graças ao advogados voltaram uma semana depois, bem mais suave, mas, pouco depois o programa chegou ao fim.
A saída de Jeison Wallace e a substituição!!!
Jeison Wallace: Na época, quando havia uma viagem da peça pra perto, assim que o programa acabava, eu saía correndo do Recife, dirigindo meu carro, mas teve uma hora que "estilei", porque estava muito cansado. Nessa noite em que tudo aconteceu, nossa apresentação seria em João Pessoa, mas todo o elenco já estava lá um dia antes, ou seja, todos estavam descansados e cheguei em cima da hora. A casa estava lotada, como sempre. No Camarim, com Beto apenas, desabafei: "Eu estou tremendo por dentro e não tenho condições de fazer o espetáculo". Só que ele não entendeu minha situação e falou de algo que sempre primei, profissionalismo, lembrando que eu devia respeito ao público. Mas era por respeito mesmo que eu não queria fazer aquela apresentação, já que não estava me sentindo bem pra dar cambalhota, abri escala, não parar um só minuto como Cinderela me exigia. Naquele momento, achei que Beto devia ter concordado em cancelar o espetáculo e me senti agredido, invadido. Daí respondi imediatamente: Então eu não faço hoje e nem nunca mais! Larguei tudo e voltei para o Recife. Rompemos ali.
Mas mesmo com a saída de Jeison em nenhum momento eles pensaram em parar. de João Pessoa mesmo ligaram para o ator José Brito pra saber se ele topava substituí-lo na semana seguinte. Só paramos um final de semana, na verdade. O ator estreou como Cinderela no Recife. Depois fez a Paraíba. E mesmo com um estilo diferente, na linha "nega gostosa, Merilyn Monroe". A resposta do público foi boa.
Em São Paulo...
Em 1999, no último ano de Cinderela..., viajaram para o estado de São Paulo, num empreitada bancada por eles. Iriam fazer Santos, onde já haviam estado um ano antes, mas de lá cumpriram turnê por várias cidades da Baixada Santista, até chegarem a São Paulo, totalizando sete meses de viajem.
Na capital paulista, estiveram no Teatro Studium, com apresentação a meia-noite, e, em seguida, conseguiram uma temporada de três meses no Teatro Ruth Escobar, às 21h, atraíndo um público bem melhor. Não tiveram muito espaço na mídia, mas o boca-a-boca de certa forma, funcionou.
O único infantil!!!
O curioso é que tanto no Rio como em São Paulo, apesar das dificuldades de mídia, a Trupe teve retorno imediato de fãs. Ainda em Sampa, no finalzinho da temporada resoveram montar um infantil de Paulo André Guimarães, O mistério das outras cores, derecionado às escolas particulares. Foram apenas três ou quatro apresentações no Teatro Pirandello, mas ao chegarem ao Recife, a peça ainda cumpriu temporada no Teatro do Parque. Era um espetáculo extremamente educativo, abordando a disputa de raças, a opressão e a dominação no universo das cores. Mas não era uma fábula, e o público foi pequeno.
O fim de Cinderela...
Quando voltaram de São Paulo, como despedida de Cinderela..., circularam com a peça por praticamente todo o nordeste - as duas últimas apresentações aconteceram no Recife, em novembro de 1999, no teatro do Parque, com ingressos esgotados, mas fizeram ainda uma nova apresentação na versão 2000 do projeto Janeiro de Grandes espetáculos.
A primeira parte contou um pouco da história do espetáculo Cinderela - A história que sua mãe não contou, em breve conheceremos os novos espetáculo que a Trupe nos apresentou nesses 19 anos de existência.
Fonte das informações: Trupe do Barulho e Livro Memórias da cena pernambucana Vol. 04 por Leidson Ferraz!
Muito obrigado pelas informações! Eu tinha muita curiosidade de saber como tudo começou. Bom saber também que Aurino, Flavio e Jô continuam "tocando o barco" com muita alegria, muito carisma e dedicação, acompanhados sempre de outras figuras extraodinárias como Eduardo Japiassu, Rafael Almeida, e outros. Às vezes, na minha cabeça, surgem muitas ideias de estorias para serem encenadas, falo muito sobre isso com um amigo... qualquer dia sento para escrever heheeh
ResponderExcluirabraços a todos da trupe,
Felipe Casado
Adoro essa trupe.
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